Um smartphone com câmera frontal na mão, uma ideia na cabeça e conexão com a internet. Precisa mais do que isso para se fazer um vídeo? Hoje em dia, não. Ainda assim, as telas de créditos de filmes e séries se estendem por longos minutos com centenas de nomes. Talvez criar um vídeo profissional não seja tão fácil assim.

Neste texto, você poderá conhecer um pouco do vasto universo do audiovisual. Descobrirá quais fases são necessárias para fazer um vídeo profissional com aquele visual de cinema mesmo nos comerciais, videoclipes e esquetes do YouTube. Conhecerá as principais funções envolvidas e muito mais, que você poderá aprofundar em uma faculdade de cinema para trilhar uma carreira incrível no ramo.

Um longa-metragem pode exigir milhões de orçamento e precisar de centenas de pessoas. Uma esquete para a internet pode levar semanas da concepção até a publicação. Um canal do YouTube talvez precise de três vídeos por semana. Seja qual for a necessidade, todo vídeo profissional conta com três fases básicas: a pré-produção, a produção e a pós-produção.

PRÉ-PRODUÇÃO

Uma história precisa de mais do que uma história

Roteiro para fazer um vídeo

Exemplo de roteiro impresso (Fonte: ScrenCraft)

É a pré-produção que faz a ideia na cabeça se tornar algo maior.

Na cerimônia do Oscar, quem recebe o prêmio de melhor filme é o produtor. Essa pessoa já se envolve aqui porque é ela quem deve garantir que todas as etapas até o final aconteçam. O produtor está em todos os projetos. Canal no YouTube de uma pessoa só? Essa pessoa é sua própria produtora.

O produtor planeja o projeto e coordena para que tudo saia de acordo com o desejado. Cada obra pode ter uma história diferente, mas é o produtor que seleciona os principais profissionais de audiovisual que vão trabalhar no projeto.

A importância da pré-produção

Não é incomum ouvirmos histórias de filmes que chegaram lá na pós-produção e precisaram de refilmagens e até de revisões de roteiro. Corrigir problemas nas fases de produção ou, pior, de pós-produção, é bem mais difícil e caro.

Quanto menos pessoas na equipe, maior deve ser o foco e tempo na pré-produção. No caso de quem está começando a fazer vídeos, isso pode significar até um time de uma pessoa só. Eficiência se torna a palavra-chave.

Por esse motivo, a pré-produção não pode ser subestimada. Não é só o lado criativo que conta. O orçamento do projeto é planejado nessa etapa. A busca por patrocinadores, a entrada em um edital, a busca por talentos, o cronograma, tudo isso acontece aqui. Uma boa pré-produção é essencial para fazer um vídeo. Ela ajuda a evitar atrasos na produção e reduzir os imprevistos.

Roteiro e storytelling

Ter criatividade é essencial nessa fase de pré-produção, a começar pelo roteiro. Cada proposta tem o seu estilo, mas é raríssimo fazer um vídeo profissional sem contar com um roteiro.

O storytelling existe justamente pela importância do roteiro. Os grandes projetos vão além do storytelling, se baseiam em teorias que vêm desde Aristóteles e outros estudiosos de narrativas.

Roteiro de animação

Parte de um roteiro de animação (Fonte: Allan Brito)

Os três atos da narrativa

Aristóteles nos deu a divisão clássica dos três Atos de um roteiro. A base é simples: início, meio e fim. Dessa divisão ele aprofundou o funcionamento das narrativas do teatro grego, com as propostas de cada Ato, o que foi desenvolvido de maneiras diferentes pelos estudiosos mais recentes do ramo.

Seguindo esse desenvolvimento, o Primeiro Ato é a Apresentação, onde o universo e o protagonista são apresentados. O Segundo Ato, geralmente o maior, é a etapa de Confrontação, onde conflitos crescentes surgem no caminho do protagonista. É muito importante que esses conflitos sejam crescentes para prender a atenção do público ao longo do vídeo. A história fecha com o Terceiro Ato, a Resolução, que encaminha a história para seu clímax.

Essa divisão consegue até mesmo se unir a outras estruturas narrativas que se tornaram famosas com o tempo, como a Jornada do Herói. Mesmo em vídeos que não contam histórias de ficção, essa estrutura fornece um guia para garantir a atenção do espectador ao longo da reprodução.

Toda essa teoria segue valendo para os vídeos não ficcionais e é comum até nas aulas de redação pré-vestibular: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Demandas criativas

Além da história, o roteiro fornece as primeiras demandas criativas que o produtor precisará garantir para o projeto. Da análise do roteiro começa a seleção de elenco e a busca por locações, por exemplo.

Pense no seu vídeo para a internet. Qual é o melhor formato para entregar a mensagem que você deseja? Um tutorial pode exigir conceitos de edição ou animação para incluir textos na tela. Um videoensaio requer obras ou filmagens de arquivo para análise e a elaboração de conceitos complexos. Uma entrevista ou documentário precisa de perguntas planejadas e pesquisa de arquivos de imagem. Tudo isso já é planejado desde o roteiro.

Em produções mais complexas, como um longa-metragem, os outros papéis criativos, como direção, direção de arte ou fotografia, também vão basear seus trabalhos no roteiro. Em vídeos profissionais, é comum que poucas pessoas exerçam inúmeros papéis, por isso as atividades de decupagem e análise técnica do roteiro se tornam tão importantes. Dessas análises, uma série de decisões serão tomadas: quais câmeras e lentes usar, quantos equipamentos serão necessários, se algum item de cena será construído, efeitos visuais e especiais, o figurino…

Sem essa base, ninguém trabalha.

Questões burocráticas

A pré-produção ainda pode contar com a negociação de contratos que requerem a atuação de equipes de advocacia e contabilidade. É, fazer um vídeo profissional também envolve burocracia. Mas o resultado é incrível, e com todo o planejamento feito, ele começa a nascer nas filmagens.

Reunião para fazer um vídeo profissional

Equipe em reunião de pré-produção de um filme (Fonte: Allan Brito)

PRODUÇÃO

A hora da verdade

Na produção, os pequenos e grandes projetos mudam bastante de escala. Dificilmente um projeto vai envolver tanta gente quanto a produção de um longa-metragem de Hollywood. Por outro lado, muitos vídeos de internet podem ser produzidos por uma pessoa.

Vídeos profissionais costumam se aproximar do primeiro caso. É na filmagem que a mágica acontece e, mesmo para um comercial de televisão de trinta segundos, muitos profissionais são necessários.

Equipes envolvidas

No set, contamos com toda a equipe que envolve a câmera. Direção de fotografia, operadores de câmera… Algumas produções podem exigir profissionais específicos, como um operador de grua ou um profissional específico de steadicam. Equipamentos de iluminação e de som também geram muitas demandas de logística nessa fase.

O elenco precisa se preparar, o que pode incluir camarim, café, maquiagem e cabelo, além do próprio figurino. Para tantos equipamentos e tanta gente, é necessário providenciar alimentação, transporte e segurança.

Questões técnicas

Não à toa equipes de produção amam gravar em estúdio. O controle sobre o que entra e o que sai e sobre as variáveis que afetam a gravação, como a iluminação e o som, auxilia muito. Gravações internas em outros locais já apresentam alguns desafios a mais, mas gravações externas levam a complexidade de toda essa logística para novos níveis. E nem vou começar a falar dos desafios de se gravar em uma locação externa à noite…

Mesmo em um vídeo profissional de menor escala, questões como a cor das luzes podem ter grande influência no resultado final. Por exemplo, uma luz artificial mal planejada pode alterar um tom de pele em comparação com a incidência da luz natural.

Bastidores de cinema

Tarantino dirigindo a atriz Margot Robbie em seu filme Era uma vez em Hollywood (Fonte: Casa Abril)

O diretor

E a direção? A pessoa na cadeira de diretor(a) lidera todos os aspectos artísticos da obra. Portanto, tem envolvimento com todos esses departamentos. O 1º assistente de direção costuma ser a pessoa que mais se movimenta no set para garantir que tudo ocorra conforme o planejamento da gravação, liberando o diretor para tomar decisões criativas ao longo do dia.

Organização do processo

Lembra que eficiência é a palavra-chave? Vídeos profissionais precisam que a lista dos planos de filmagem definidos na pré-produção sejam preparados no dia anterior à filmagem das tomadas. A cada dia esse processo é repetido, buscando maior eficiência.

Detalhes como a definição correta de quais equipamentos serão necessários e a ordem do dia, distribuída para toda a equipe, são essenciais para que todas as pessoas envolvidas saibam o que será filmado em cada momento do novo dia.

Gravar cenas mais complexas antes de cenas mais simples acaba sendo uma boa prática para que o crucial sempre esteja pronto em casos de imprevistos, com problemas de prazos ou orçamentos.

Algumas produções maiores contam com mais de uma equipe de operação de câmera, como em uma sitcom filmada em auditório no estilo de Friends. O roteiro já deve ter sido preparado para essa realidade lá na fase de pré-produção. Outros projetos podem demandar uma segunda equipe inteira de direção, com segundo diretor inclusive, para acelerar o cronograma na gravação de cenas como planos detalhe ou que não envolvam o elenco principal.

Muitas funções, não é? Esse vídeo incrível do Porta dos Fundos mostra a diferença que cada uma faz no resultado final.

PÓS-PRODUÇÃO

Filmado não é pronto

Apesar dos desafios logísticos e criativos, a filmagem costuma ser a etapa mais rápida de um vídeo profissional. A maratona vem mesmo na pós-produção. Com todas as cenas captadas em diferentes tomadas, é hora de juntar tudo isso, contando a história que foi planejada lá no roteiro.

Montagem

A montagem é a principal atividade da pós-produção, pois ela acaba englobando… tudo. Quem já se aventurou a editar ou a montar um vídeo para o YouTube sabe que essa etapa é bem trabalhosa. Um videoensaio que analisa filmes pode contar com a edição de cenas de filmes prontos, enquanto uma simples esquete ou vídeo DIY pode contar com a montagem de uma quantidade enorme de tomadas.

Sonorização

O som, por exemplo, não é uma atividade só. A sincronização dos áudios com as imagens captadas nas gravações é uma etapa importante, que pode determinar a necessidade de dublagens para sincronização da voz com os lábios. A gravação de sons ambientes em locações externas costuma passar por esse processo na pós-produção, em que as vozes do elenco são regravadas em estúdio para melhor qualidade.

Mas e na hora de colocar música ou vinhetas? O som também engloba a edição de trilha sonora, que pode ser trabalhada de várias formas. Plataformas como o YouTube mantêm bibliotecas de arquivos de domínio público. Algumas plataformas também contêm efeitos de propriedade intelectual que precisam ser adquiridos, adicionando às obrigações contratuais da produção.

Filmes e mesmo produções menores podem contar com compositores criando trilhas sonoras originais. Nesses casos, em vez de aquisição, o trabalho burocrático de registro dessas obras secundárias ao vídeo também se faz necessário.

No caso de efeitos sonoros que não foram conseguidos com terceiros, é possível até mesmo realizar a gravação desses efeitos em estúdio, com métodos alternativos que geram vídeos de bastidores bem curiosos no YouTube. É o trabalho conhecido como foley.

Mizagem e masterização de vídeo profissional

David Gnozzi trabalhando em mixagem e masterização (Fonte: Musicosomos)

Imagens

As imagens não se mostram mais fáceis. Imagine o vídeo de uma entrevista em que dois ângulos de filmagem são usados. Você grava a entrevista com um plano mais aberto, depois a refaz com um plano fechado, para poder criar variações na montagem. Mesmo que faça um bom trabalho de iluminação, é comum que perceba diferenças de coloração na pós-produção pela simples passagem do tempo no local de filmagem.

É o momento da correção de cor. Detalhes como a correção de tons de pele até a aplicação de filtros sobre toda a imagem são feitos nessa etapa. No nosso exemplo acima, caso a entrevista seja gravada com duas câmeras simultaneamente, será que o problema da mudança de iluminação estaria resolvido? Não exatamente.

Filmagens com múltiplas câmeras trazem o desafio de igualar configurações, o que nem sempre é possível. Podem existir diferenças por conta das lentes usadas ou mesmo pelas configurações de fábrica de diferentes modelos de câmera. Nesses casos, também é a etapa de correção de cor que fará com que todos os planos pertençam de fato à mesma cena.

A correção de cor ainda deve atentar para a unidade das cores em sequências diferentes. Se a cor do tênis de um personagem em um vídeo publicitário for alterada em uma tomada, ela precisa ser alterada em todas as cenas com o mesmo figurino, mesmo que o personagem mude de locações.

Editor fazendo correção de cor em vídeo

Editor realizando uma correção de cor em um filme. (Fonte: BlackMagic Design)

Efeitos visuais

As locações também podem mudar bastante na pós-produção graças às tecnologias de chroma-key e demais efeitos visuais. É nessa etapa que os famosos efeitos de computação gráfica dos filmes de super-herói ou das animações Pixar fazem seu show. Em comerciais, e mesmo vídeos de menor orçamento, o mesmo efeito pode ser obtido com uso de softwares de edição como o famoso Adobe After Effects.

Canais do YouTube e outros vídeos profissionais acabam fazendo bastante uso dessas ferramentas ao inserir fotos ou motion graphics para vinhetas. As próprias chamadas de programas de televisão são trabalhadas nessa etapa.

Outras questões de edição

Tantos efeitos produzidos de imagem e som precisam ser unidos no processo da montagem de vídeo. Além das correções e inserções de efeitos, a montagem conta com suas próprias teorias narrativas, como o Efeito Kuleshov, que aborda a construção de significado ao concatenar dois planos em sequência. Essa etapa pode levar a cortes ou construções de novos elementos sobre o material filmado.

A plataforma de reprodução também impacta no processo artístico da pós-produção. Vídeos de YouTube têm grande diferença de estilo de edição em comparação com o cinema, por exemplo. No YouTube, são famosos os Jump Cuts, cortes bruscos em uma mesma tomada que nos ajudam a entender que o personagem no vídeo está saltando entre assuntos, por exemplo.

Ainda assim, essa fase garante que o resultado de um vídeo profissional tenha a qualidade que nos acostumamos a ver em grandes comerciais ou na tela de cinema. Um elemento simples como o filtro de cor ou um efeito sonoro pode mudar completamente a percepção de uma filmagem e o quão agradável é a experiência de assistir ao vídeo.

Quando essa experiência é boa para o público, todo o trabalho que vimos até aqui se torna muito gratificante. Então coloca esse vídeo para fazer upload no YouTube ou no Vimeo e… peraí. Ainda tem trabalho pela frente.

PUBLICAÇÃO E MARKETING

Acabou? Não!

Filme o Lobo de Wall Street

Imagem publicitária do filme O Lobo de Wall Street (Fonte: Espalhando)

A publicação de um vídeo também conta com muitos detalhes que podem elevar ou enterrar um projeto. O vídeo tem legenda? Alguma ferramenta de acessibilidade? O conteúdo do vídeo tem restrições de direitos autorais em alguma localidade? Diferentes plataformas podem exigir diferentes cuidados e até servir a diferentes propósitos. Vídeos profissionais precisam de títulos, sinopses ou descrições e, na internet, as tags já se tornaram ferramentas essenciais para o videomarketing.

Produções maiores, como cinema ou televisão, podem exigir registros da obra, contratos de licenciamento, preparação para participações em festivais e eventos, distribuição no cinema e em plataformas de VOD. Já as redes sociais se tornaram preocupação universal quando o assunto é o marketing do vídeo.

É muito gostoso produzir por conta própria, arriscar, aprender na prática. Porém, o audiovisual parece tão infinito de possibilidades quando estudado a fundo que pode ficar a pergunta: Como saber o que se assemelha mais aos seus interesses?

A faculdade de cinema gera a oportunidade de conhecer essa gama de etapas com a orientação de professores com muita prática de mercado e o respaldo de um setor com mais de cem anos de história. Um grande laboratório para uma formação mais completa no caminho para um mundo profissional vasto e encantador.

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