Como fazer um vídeo ao vivo de forma profissional?
Com o avanço da tecnologia, as possibilidades para o audiovisual evoluíram muito, facilitando a vida dos produtores de vídeo. Graças a essa facilidade, nos acostumamos a tipos de transmissão que costumavam ser raros e complicados, como exibições feitas em tempo real. Ou seja, saber fazer um bom vídeo ao vivo passou a ser
pré-requisito para profissionais da área.
Se você chegou aqui porque deseja aprender a fazer um vídeo ao vivo de forma profissional, está no lugar certo! Siga com a gente e vamos te apresentar tudo sobre essa forma superpopular de audiovisual.
Foto do aplicativo Twitch em um celular. (Fonte: Caspar Camille Rubin)
FAZENDO UM VÍDEO AO VIVO
Você está no celular e surge aquela notificação. Uma amiga iniciou uma transmissão ao vivo no Instagram. Você clica para assistir, enquanto na televisão ao fundo outra programação ao vivo é exibida: uma partida de futebol, uma cerimônia de premiação, uma nova eliminação no seu reality show favorito… Poucas formas de se fazer mídia se multiplicaram tanto em diferentes possibilidades quanto a produção de vídeos ao vivo.
Antigamente, só grandes redes de televisão eram capazes de transmitir um evento enquanto ele acontecia. A infraestrutura necessária era enorme e em muitos casos ainda é. Esse tipo de vídeo acabava reservado aos grandes eventos, que justificavam o alto investimento, ou a modelos sólidos de programação, como o telejornal. Até que a internet chegou e, bem… basta um celular com acesso a ela.
No texto sobre como fazer um vídeo profissional, conhecemos vários caminhos que podem ser seguidos no ramo audiovisual. Exploramos a complexidade envolvida na execução das três grandes fases de um vídeo: pré-produção, produção e pós-produção.
Diferenças do vídeo ao vivo
O que muda na hora de fazer um vídeo com transmissão em tempo real? Para começo de conversa, esse tipo de vídeo elimina a terceira fase. Afinal, o que está sendo filmado é também o que está sendo exibido. A ausência da pós-produção, contudo, não quer dizer que o trabalho diminui.
A primeira questão a se pensar sobre um vídeo ao vivo é como essa atividade ganhou novos formatos. Os grandes eventos televisivos continuam existindo com uma estrutura soberba. A transmissão do campeonato brasileiro de futebol masculino, as finais de Copas do Mundo e as Olimpíadas evidenciam o destaque que o esporte tem nesse ramo.
No entanto, o YouTube é tomado por transmissões em tempo real de gamers, palestras e eventos de auditório e outros tipos de influenciadores. No Facebook e no Instagram, debates de nicho ou demonstrações de produtos ocorrem com a simplicidade de celulares ou webcams conectados.
Independente do tamanho necessário para essa infraestrutura, ela terá que ser planejada na fase de pré-produção.
Visão em um enquadramento aberto do estádio de futebol. (Fonte: Albari Rosa)
Pré-produção
Lembra que falamos que não haverá pós-produção aqui? Portanto, não há chance de corrigir os erros depois. Isso soa ainda mais complicado se pensarmos que em eventos ao vivo muita coisa pode acontecer fora do controle da equipe. O planejamento se torna ainda mais importante para evitar imprevistos ou garantir a capacidade de contorná-los.
O roteiro do improviso
Com essa dica, chegamos ao roteiro. Muitos vídeos com transmissão em tempo real não comportam a escrita de diálogos. Entrevistas dependem das respostas dos entrevistados, que nem sempre são pessoas extrovertidas, com grande facilidade de comunicação. Eventos esportivos precisam acompanhar os imprevisíveis acontecimentos em campo ou quadra. Transmissões podem contar com participações inesperadas do público.
Apesar de o diálogo nem sempre poder ser antecipado, ainda assim o roteiro prevê a estrutura dos acontecimentos. Uma linha narrativa sobre o evento em questão ou a preparação de perguntas ou “deixas” fazem parte do roteiro de um vídeo ao vivo.
Pesquisa e criação
Preparar tópicos de discussão requer bastante pesquisa. A biografia dos participantes em eventos é uma fonte comum para informações. É de praxe ouvir estatísticas curiosas sobre o desempenho de jogadores em transmissões de eventos esportivos.
Gameplays e transmissões de competições de e-sports estão se popularizando e acabam demonstrando a importância desse tópico. A mistura de um público cativo com novos espectadores não familiarizados torna a pesquisa um fator crucial para inserir os conteúdos que atendam aos diferentes perfis do público.
Outro ponto importante é a criação de personagens. Apesar de vídeos em tempo real geralmente serem não ficcionais, diferentes “personagens” podem aparecer na tela. Esses personagens vão desde apresentadores com diferentes perfis a convidados planejados para criar tensão ou humor ao longo da transmissão.
A pesquisa também é de suma importância em entrevistas. Sem surpresa, não é? Entrevistas ao vivo são ainda mais desafiadoras, pois a busca por histórias originais aumenta a chance de imprevistos.
Outros formatos de Live também estão ganhando popularidade. Alguns podcasts realizam Lives de suas gravações, criando novas formas de interação com o público. Essa dinâmica pode crescer em complexidade caso haja a presença de convidados. É preciso planejar todos os equipamentos, conexões que serão realizadas, como será o trabalho com chats e outras ferramentas de interação com o público.
Estúdio montado para transmissões online. (Fonte: Codlux)
Reprodução offline
Lives transmitidas por plataformas de redes sociais como o YouTube ou o Facebook Live também têm a característica de manter seus vídeos salvos para serem reproduzidos como conteúdo offline. Essa característica requer um cuidado desde o roteiro, pois a experiência de um espectador ao vivo será diferente da de alguém que chegou depois e poderá navegar pelo vídeo.
Até mesmo apresentações de stand-up comedy podem contar com transmissões ao vivo que acompanham o público presente no local físico.
Por esses motivos, o roteiro deve considerar os momentos de interação com os diferentes públicos que podem estar em contato com o conteúdo do vídeo.
O planejamento que guia o roteiro
Além disso, também é preciso planejar a narrativa do vídeo de acordo com as necessidades técnicas da produção. O planejamento de um vídeo em cenário fixo, como um quarto, pode ser mais simples. No caso da cobertura de eventos, a filmagem pode envolver vários equipamentos e até mais de uma câmera. A sincronia de toda a equipe é afetada pelas determinações feitas no texto do roteiro.
Os intervalos comerciais na televisão também se tornam importantes ferramentas no desenvolvimento de um programa em tempo real, definindo quando o roteiro deve prever ganchos para prender o público.
O planejamento pode prever ainda um misto de programação ao vivo e editada. Um clipe de reality show destacando um personagem pode fazer parte de um episódio ao vivo, com a interação do apresentador ou dos participantes comentando o que é exibido no clipe. Um evento esportivo é complementado com uma série de efeitos e clipes de melhores momentos que se integram ao conteúdo original.
Os cuidados técnicos da pré-produção
A fase de pré-produção ainda conta com desafios comuns aos de outros vídeos profissionais. É preciso considerar os especialistas e o suporte técnico necessário para cada tipo de evento, dos que vão à frente da câmera, como comentaristas, aos que ocupam os bastidores.
Questões legais
Os trâmites legais envolvidos com a gravação de um vídeo em tempo real podem se tornar complexos. A exibição da imagem de uma pessoa sem autorização, por exemplo, pode criar problemas jurídicos para a obra, e não há chance de remover apenas aquela imagem em uma fase de pós-produção.
Questões artísticas
Outro aspecto que ganha bastante destaque nessa fase é a direção de arte. Canais do YouTube investem em renovações de cenários para gerar uma identificação maior com o público. O fundo se torna uma espécie de personagem com a qual as pessoas presentes no vídeo podem interagir para criar novidades na transmissão.
O cenário ainda influencia o planejamento da iluminação e do som, extremamente importantes na fase de produção. Mais uma vez, não há pós-produção para inserir novos efeitos ou corrigir problemas. Portanto, o planejamento dos equipamentos e técnicas de luz e som aqui é essencial.
Questões técnicas
Palestras são cenários interessantes pois costumam apresentar a junção dos dois mundos mencionados anteriormente: um público presencial, que não depende da produção do vídeo para assistir à apresentação, e outro público online. Na etapa de pré-produção, uma palestra requer o planejamento dos equipamentos considerando o público presente. Até detalhes como a escada de um auditório ou onde passarão os fios das câmeras e refletores podem fazer diferença na hora da transmissão.
Outra consideração importante é a forma de interação, de modo que o público online também consiga fazer perguntas, por exemplo. Ainda que a organização dessa logística possa ir além da equipe de produção do vídeo, a transmissão ao vivo pode misturar as responsabilidades, portanto, é bom se prevenir.
Transmissão ao vivo de uma palestra. (Fonte: Brazil Production Services)
Produção: pressão? claro que não...
Seguindo a pré-produção, a filmagem de um vídeo ao vivo pode conter muitas variações. Gameplays, por exemplo, funcionam com a transmissão direta da tela de jogo, podendo variar entre consoles de videogame e PCs. As plataformas de jogo ainda podem ser acompanhadas por câmeras e microfones complementares que filmem o jogador. Programas jornalísticos contam com o famoso “prompt”, uma tela que exibe o texto a ser narrado ao vivo pelo apresentador ou âncora.
Perfil dos profissionais
Os profissionais envolvidos em uma produção ao vivo podem ser ainda mais desafiados do que em outros formatos de vídeos. Não é possível gritar “corta” e repetir uma cena. Imprevistos precisam ser corrigidos ao vivo e muitas vezes inseridos ou contornados na narrativa do programa. Não é raro que apresentadores façam chamadas à produção em programas de auditório devido a improvisos ou correções de informação.
Ou seja, os profissionais de audiovisual que trabalham com vídeos ao vivo precisam ter perfil proativo, agir rápido e saber manter a calma.
Testes e ensaios
Devido às dificuldades, muitas produções ao vivo contam com extensos ensaios e testes de equipamentos. Assim como um show de banda de rock precisa de ensaios da banda e passagens de som, o mesmo ocorre no audiovisual. A captação de áudio precisa ser considerada em paralelo à captação de vídeo. Transmissões ao vivo podem fracassar por uma única falha de som que prejudique a experiência de quem assiste.
Mesmo transmissões individuais de redes sociais, como no Facebook Live, permitem modos de transmissão privada para que um ensaio seja possível com o notebook ou a câmera de smartphone. Nesses ensaios, um importante aspecto a ser testado é a iluminação.
Iluminação
Pequenas produções com uma pessoa falando em vídeo requerem três camadas de iluminação para um aspecto profissional, um conceito conhecido como iluminação de três pontos.
A luz principal é a primeira das três, geralmente posta em algum ângulo frontal à pessoa, podendo até ser a luz do dia. Ela deixa sombras no rosto que são suavizadas com a luz de preenchimento, geralmente ao lado da pessoa. Por fim, a contraluz funciona como uma luz de fundo, que destaca a pessoa do cenário sendo filmado ao ser colocada por trás.
Imagem mostrando o posicionamento da pessoa em relação às luzes. (Fonte: Ipsispro)
Câmeras
O exemplo acima também nos leva a questões de filmagem multicâmera. Em um evento ao vivo, de um reality show a um programa de palco ou evento esportivo, filmar com muitas câmeras simultaneamente significa ter que decidir qual é a câmera certa para um dado momento. Essa complexidade aumenta, pois é necessário uma espécie de centro de comando, onde todos os vídeos são coordenados justamente para que essa decisão possa ser tomada inúmeras vezes em um programa.
Dificuldades
Outros aspectos comuns às produções podem se tornar mais difíceis em um vídeo em tempo real. A realização da filmagem em estúdio dá um pouco de controle a um programa que já precisa antever imprevistos. Uma filmagem ao vivo externa pode ter tantos imprevistos que até a previsão do tempo se torna aliada ou inimiga.
Em muitos casos, o próprio caos de um evento se torna parte da linguagem de um programa. Transmissões de eventos com grandes públicos, como a Comic-Con, acabam se adaptando ao perfil de seu público mais jovem, inserindo o dinamismo do evento nas técnicas de narração e filmagem.
No caso de palestras, a transmissão ao vivo não deve atrasar o evento, que geralmente tem um cronograma apertado, com tempo de locação do local e conflito de horários para próximos convidados. Porém, quando é o evento presencial que atrasa, a equipe de transmissão ao vivo pode se tornar refém das circunstâncias.
A pós-produção dentro da produção
A boa notícia é que basta filmar e acabou, não é? Não tem pós-produção por aqui e nem mesmo aquele papo de edição, certo?
Na verdade, não é bem assim…
O fato é que não há uma fase de pós para a montagem, inserção de efeitos visuais, correção de cor ou tratamentos de som. Ainda assim, um programa ao vivo pode contar com uma equipe de especialistas preparados para inserir uma série de efeitos em tempo real.
Âncora Jéssica Senra fazendo pose para foto oficial do Jornal Nacional. (Fonte: TV Globo)
Profissionais a postos
Um programa de telejornal costuma mostrar uma grande equipe de pessoas de costas ao fundo da bancada dos âncoras. Essa equipe cuida para que os efeitos necessários apareçam na tela no momento desejado, como é o caso de motion graphics em tempo real. O resultado de uma votação de eliminação de um programa como o Big Brother Brasil, por exemplo, requer uma equipe pronta para inserir todas aquelas animações que aparecem na tela enquanto acompanhamos as filmagens do que acontece na casa do reality show.
Desde uma animação com o nome de um personagem do programa à rolagem dos créditos, tudo precisa ser sincronizado para aparecer no momento correto e não gerar um novo meme nas redes sociais. Não só imagens, mas efeitos sonoros, como vinhetas e músicas de trilha sonora (ex: o tema de um personagem de reality show ou o hino de um clube de futebol), podem ser adicionados durante a transmissão.
Outra função de equipes que acompanham a produção dos bastidores pode ser acompanhar a resposta do público ao programa e tomar decisões de alteração no roteiro em plena transmissão. Por vezes, pessoas que participam do vídeo, como comentaristas, podem assumir essa função de interações, com leitura de comentários e perguntas do público. Apesar de soar como algo possível apenas em uma grande rede de televisão, youtubers fazem isso a todo o tempo em Lives de perguntas e respostas.
Transmissão: por favor internet, não caia!
Falando em redes sociais, a transmissão de um vídeo ao vivo adquiriu uma cultura própria. De uma Live no YouTube até programas de cobertura nacional na TV aberta, todos podem contar com comentários do público. As plataformas apresentam inúmeras ferramentas de interação, transformando o conteúdo de muitos vídeos ao vivo em uma ação colaborativa com os espectadores. A nuvem de “reações” voando sobre um espaço da tela de um vídeo já é comum a usuários de plataformas como o Facebook e o Instagram.
Grandes plataformas como o YouTube e o Facebook se destacam pelo alcance potencial a bilhões de usuários de internet pelo mundo. Muitas outras plataformas se especializam em nichos para permitir outros tipos de transmissão, passando por treinamentos corporativos, gameplays e vídeos de humor amadores. No ramo dos gameplays, o site Twitch.tv se destaca como plataforma especializada em streaming, alcançando milhões de pessoas.
Nesse novo modelo de transmissão baseado na internet, a qualidade da conexão é mais um fator de risco para a execução de um vídeo ao vivo com qualidade profissional. Mesmo em eventos mistos, não é raro que o público online de um evento supere em muitas vezes a quantidade de pessoas fisicamente presentes.
Programas televisivos também vivem grandes mudanças com a criação de conteúdos complementares para interação do público. Aplicativos de segunda tela ou ferramentas de votação e comentários se tornam parte da experiência enquanto a narrativa principal é transmitida por satélite para um país inteiro.
Página inicial do site Youtube. (Fonte: Youtube)
O universo dos vídeos ao vivo é um excelente exemplo de como o mercado audiovisual é dinâmico e absorve rapidamente as novas tecnologias. Com tantas possibilidades, o domínio das técnicas, equipamentos e conceitos facilita muito o caminho. A formação na faculdade de cinema fornece os recursos para a preparação para uma carreira dinâmica, com muitos vídeos incríveis no currículo.