Design de Animação:
3 perguntas sobre a área
Quer entender melhor a criação de uma animação, seus conceitos, vocabulários e princípios envolvidos? Então acompanhe esse texto, no qual respondemos as 3 perguntas sobre animação que todo mundo quer saber!
Disney. Pixar. Dreamworks. Não podemos falar sobre animação sem citar alguns dos gigantes. Todos crescemos consumindo animação. Nosso interesse pelo audiovisual, pela arte e pela cultura pop começa com a animação. Desenvolvemos uma relação de muito carinho com imagens animadas.
A definição de animação é uma poesia: é a arte de trazer vida a objetos inanimados. Ilustrações, bonecos, fotografias, fantoches, esculturas em 3D, tudo pode ser animado. A essência do trabalho do animador é a capacidade de projetar uma sequência de imagens rapidamente, gerando ilusão de vida. A animação abre um universo de infinitas possibilidades.
Mas com essas possibilidades, surgem dúvidas. Por isso, selecionamos 3 perguntas sobre animação pra responder aqui. Confira abaixo!
Animação do Mickey Mouse, personagem mais conhecido da Disney (Fonte: SegredosMundo)
COMO ACONTECE UMA ANIMAÇÃO?
Em resumo, é uma questão de tempo.
Primeiramente, o profissional de animação precisa dominar o tempo. Precisa entender quanto tempo um personagem leva para dar um passo, quanto tempo uma bola demora para cair e quicar, quanto tempo leva para um copo de água se encher. A animação acontece quando conseguimos representar o progresso e continuidade de uma cena ao longo do tempo.
O controle do tempo acontece através de uma janela chamada linha do tempo, ou timeline, em inglês. Todo software de animação tem sua própria linha do tempo, e é através dela que gerenciamos a progressão da animação.
As linhas do tempo são compostas por um conjunto de quadros, os frames, que são exibidos em uma rápida sucessão, o que gera a sensação de movimento. Podemos controlar a velocidade dos quadros exibidos através de um valor chamado Frame Rate, dizendo exatamente quantos quadros são necessários para formar um segundo de animação. Muitas animações são criadas utilizando 24 quadros por segundo.
Nosso controle de animação vem através da criação de quadros-chave (keyframes), poses representativas de um movimento que, quando colocadas com um correto espaçamento em uma linha do tempo, nos dão a ilusão de um movimento correto, a ilusão de vida.
QUAIS SÃO OS TIPOS DE ANIMAÇÃO?
Estamos acostumados a assistir animações fantásticas, com traços refinados, cores belíssimas e uma arte impecável. Quem nunca se encantou com os animais e florestas representados em O Rei Leão, as ilustrações cinematográficas em Jardim das Palavras ou mesmo a clássica cena musical em Branca de Neve (“Lorerareii, eu sei dançar, eu sei que sei!”).
Porém, o trabalho de um animador não deve ser confundido com o de um ilustrador. Existe um universo de possibilidades diferentes no trabalho em animação, cada um com suas próprias características, diferenças e semelhanças.
Animação 3D
Começaremos, então, abordando os processos típicos de Animação 3D, como são popularmente categorizados os filmes em CGI (Computer Generated Imagery, imagens geradas por computador), que é atualmente o estilo mais comum e com maior número de produções, tanto no cinema como na TV e em curtas animados, além de serem base de animação para a indústria dos videogames.
Uma animação em CGI 3D acontece quando o animador manipula uma marionete digital, um personagem tridimensional com um esqueleto base, que pode ser colocado de diversas poses, definindo o movimento dos membros do personagem entre as poses chave (keyframes).
O computador então processa os frames intermediários entre esses keyframes, num processo chamado interpolação. Os keyframes, movimentos e interpolações são então manipulados pelo animador até que este esteja satisfeito com o resultado da animação.
Devido à grande quantidade de conhecimentos específicos envolvidos numa animação CGI 3D, é bastante comum que os estúdios fragmentem o processo em diversas etapas, contratando especialistas diferentes para os processos de modelagem, texturização, iluminação, rigging e animação.
South Park, uma animação em cut-out muito conhecida pelo público. (Fonte: Revista Bula)
Animação 2D
Animações tradicionais
O primeiro estilo de animação 2D que iremos abordar é a animação tradicional. É aquela desenhada quadro a quadro por um artista habilidoso – à mão.
Esse é o estilo clássico de animação que crescemos assistindo. Os animadores costumavam desenhar seus personagens em uma sequência de quadros, que eram transferidos então para folhas de acetato, chamadas células, onde eram pintados. Esse estilo é conhecido como Cell Animation.
Computação gráfica
Já na década de 1990, com o advento da computação gráfica, os estúdios de animação abandonaram as células escaneadas e adotaram técnicas de colorização digital. O papel e outras matrizes físicas foram deixados de lado e o trabalho passou a ser feito em tablets, porém ainda mantendo a característica do trabalho quadro a quadro.
Atualmente, a computação gráfica nos oferece também a possibilidade de criar Animações 2D utilizando marionetes digitais de forma muito semelhante à animação 3D, criando uma série de sistemas de controles e esqueletos para manipulação da animação. A fronteira desse tipo de animação com a animação quadro a quadro está bastante fina, com muitos estúdios fazendo uso de ambas as técnicas na mesma produção.
Outras formas de animação
Existem outras formas de animação 3D que não fazem uso de CGI ou interpolação de frames pelo computador, como as animações em Stop Motion, que envolvem a manipulação de objetos reais. Estes objetos são fotografados e, após um leve movimento, fotografados novamente. As fotos são exibidas em sequência, criando a ilusão de movimento.
Existem muitos tipos diferentes de animação em stop motion, como as animações feitas em massinha (claymotion, usado em Fuga das Galinhas), brinquedos (principalmente Lego), pedaços de papel (cut-out, como na série South Park) ou mesmo pessoas reais sendo fotografadas em poses diferentes, numa técnica conhecida como Pixelation.
Ilustrador produzindo uma arte digital em seu tablet (Fonte: Artgeist)
QUAIS SÃO AS ETAPAS DE UMA ANIMAÇÃO?
Essa é a pergunta que não quer calar. Agora que compreendemos os conceitos básicos e estilos de animação, vamos entender como funciona o planejamento e fluxo de trabalho na produção de uma animação. Para uma visão mais detalhada sobre o processo de criação de uma animação, da ideia à distribuição, confira o artigo que fizemos a respeito.
Ideia
Tudo começa com uma boa história, assim como em qualquer filme. Sem um bom argumento, não importa o quão bela seja a animação, não será o suficiente para manter a atenção da audiência. Nunca se deve seguir em frente sem antes garantir que possui uma boa história nas mãos.
Roteiro
Uma vez definida a história, esta deve ser traduzida em um roteiro. O ato de roteirizar ajuda a encontrar erros, pontos frágeis e fortes, assim como planejar melhor todo o processo de criação que virá a partir desse momento. É a hora de testar soluções diferentes para sua narrativa, tentar identificar seus plot twists e garantir o ritmo.
Concept art da personagem Rapunzel, de Enrolados (Fonte: Knoow.net)
Concept Art
Com o roteiro em mãos, podemos começar a traduzir palavras em imagens. É a hora de desenvolver artes conceito (concept arts), definindo o estilo visual do filme e explorando todas as representações possíveis para sua história.
Storyboard
A etapa seguinte é a de Storyboard – uma transposição sequencial da história seguindo as diretrizes definidas na arte conceitual (como uma espécie de história em quadrinhos). Isso permite avaliar aspectos da forma como a história está sendo contada, como o ritmo, ou se as pessoas estão conseguindo compreender o enredo. É a etapa ideal para recolher feedbacks e realizar adaptações, pois as pessoas tendem a compreender melhor o Storyboard do que o roteiro.
Animatic
Se o Storyboard é como uma história em quadrinhos, a próxima etapa – Animatic – é como um filme. O Animatic é a tradução em vídeo de nossas ideias, histórias, conceitos visuais e personagens. Também são introduzidas algumas prévias de efeitos sonoros, assim como músicas temporárias. Temos então a primeira impressão de como a animação ficará ao final do processo.
Clipe do GorillaZ, Feel Good Inc, em animatic.
Biblioteca de objetos
Pronto. Já conseguimos definir conceitualmente a nossa história. Agora é hora de colocar as mãos na massa através da criação de nossas bibliotecas de objetos – sejam ilustrações 2D, modelagem 3D de personagens, cenários, acessórios ou construção de objetos para stop-motion. A biblioteca vai variar de acordo com a natureza da animação, mas terá de ser construída.
Pré-visualizações
Então, finalmente, vamos animar, correto? Errado! É a hora de montar as pré-visualizações: uma versão do Animatic atualizada utilizando a nossa recém-construída biblioteca de objetos. Usamos nossos personagens construídos, cenários e acessórios para a reconstrução de cenas chave previstas pelo Animatic. Como o processo de animação, uma vez iniciado, é relativamente demorado, essa é nossa última grande oportunidade para identificar potenciais erros em nosso roteiro, já que mudanças posteriores descartariam grande parte do trabalho já realizado.
Animação
É hora de animar! Até que enfim! Um processo bem planejado, como descrito nesse texto, ajuda a ser assertivo na hora de dar vida aos personagens. Finalmente começamos a ver a vida, a magia, o corpo de nossos personagens ganhando alma. Uma boa animação é equivalente a uma boa atuação para um ator, e acrescenta uma grande gama de detalhes, carisma e afeto a nosso filme.
A parte de animação se encerra aqui, e começam as etapas de pós-produção e distribuição. Mas isso é assunto para outro texto.
Exemplo de um Storyboard desenhado à mão (Fonte: Freepik)