Trabalhar com Jogos: As principais profissões da carreira em games
Muita gente acha que, se quer trabalhar com jogos digitais, deve necessariamente atuar com programação. Afinal, essa é a única área de atuação dos profissionais de jogos digitais, certo?
Claro que não!!!
Como explicamos no texto sobre o curso de graduação em jogos digitais, o mercado para quem trabalha com games é bem amplo e pode oferecer uma gama de oportunidades que poucas áreas são capazes. É um engano bastante comum acreditar que o profissional de games só é capaz de trabalhar em uma área. Na verdade, o profissional capacitado estará apto a atuar em partes bem distintas da produção de um game, sendo game designer, programador, artista 2D/3D, character designer, engenheiro de som, entre outros.
Mas você sabe o que cada um desses profissionais faz e quais são suas responsabilidades na produção de um jogo? Aqui vamos falar sobre as principais profissões da área de games. O intuito é destrinchar a importância de cada profissional e mostrar que trabalhar com jogos é uma boa pedida para ter uma carreira de sucesso e conquistar a tão sonhada realização profissional.
GAME DESIGNER
Hideo Kojima realizando testes em seu jogo Metal Gear. (Font: Jogazera)
Este é o responsável pela visão macro do game, ou seja, é ele quem define o conceito do jogo e idealiza o projeto inicial. Além disso, o game designer é responsável por centralizar as ideias e partes do projeto. Imagine que cada equipe trabalhe em separado: equipe de som, design de fases, programadores etc. Cabe ao game designer garantir que o game possua unidade, que as partes separadas funcionem juntas.
Uma vez que o game designer é a mente por trás do projeto, seu valor para o estúdio é inestimável. Não é por acaso que centenas de game designers acabam aclamados pelo público e ganham reconhecimento mundial, como Tetsuya Nomura, Hideo Kojima, Will Wright, etc. Sim, este profissional tem papel semelhante ao de um diretor de cinema.
O game designer é como um autor, aquele que inicia e assina o projeto, usando suas habilidades de arte, escrita e técnica para garantir que o game seja a obra prima idealizada. Mas não pense que as demais funções são menos importantes. Para chegar ao cargo de game designer é necessário estudar e praticar bastante!
Carreira
Em geral o designer de jogos começa em funções menores, que variam de testador a programador, até alcançar experiência suficiente para convencer o estúdio a tocar sua ideia adiante (ou partir para a produção independente).
Existem duas ramificações pelas quais o profissional pode passar antes de chegar a designer sênior, que são designer de sistema e designer de fases. O primeiro é responsável por elaborar as regras que permeiam o jogo, bem como suas mecânicas (o “gameplay”). O segundo é responsável por imaginar e desenvolver os cenários que compõem o jogo.
Média salarial
O salário de um game designer pode variar conforme o porte do estúdio, mas em média fica entre R$ 1.200 e R$ 1.800 para profissionais em início de carreira. Já um profissional experiente pode receber mais de R$ 4.000 no Brasil, conforme estimativa do site Love Mondays. Em outros países, a remuneração costuma ser maior, uma vez que o alcance dos jogos estrangeiros é maior que o dos nacionais.
Importante: Não confundir um game designer ou designer de jogos com designer gráfico!
programador/desenvolvedor
Notch, o criador de Minecraft, posando para uma foto. (fonte: newsd)
De nada adianta o designer de jogos idealizar o game se não existir o programador, pois é ele o responsável por transformar as ideias postas no papel em algo realizável na tela do computador ou da TV. Em outras palavras, o programador é o responsável por todas as linhas de código de programação de um jogo. E haja linhas de código! Existem dezenas de “game engines” e ferramentas a serviço do programador, tais como a Unreal Engine, a Unity, Construct, Game Maker, entre outras. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens, cabendo ao estúdio e ao desenvolvedor decidirem qual delas atenderá a necessidade da produção.
Um programador eficiente precisa ter bastante atenção e um olho cirúrgico para enxergar problemas de lógica em linhas de código. É uma tarefa que pode parecer cansativa, mas é bem comum ouvir de estudantes que a parte de programação é a mais divertida e importante na produção do jogo.
Carreira
Uma vez que cada pequeno detalhe e movimento de um personagem precisa ser escrito pelo programador, é lógico inferir que este é um profissional valorizado nos estúdios. Além disso, um programador que domine diferentes linguagens (C#, Python) pode atuar em empresas desenvolvedoras de aplicativos para computador e mobile, que não necessariamente desenvolvem jogos.
Média salarial
O salário costuma ser gratificante, sendo que em média fica entre R$ 2.000 para iniciante e acima de R$ 5.000 para pessoas mais experientes, de acordo com o site Love Mondays. Naturalmente, chegar neste patamar não é fácil. Muitos costumam estudar Ciência da Computação, Tecnologia da Informação ou Sistemas de Informação, além de Jogos Digitais.
Importante: o mercado de trabalho para desenvolvedores está aquecido e não dá mostras de esfriar nos grandes centros urbanos.
Artista 2D/3D
Cenário do jogo Ori and the Blind Forest, criado pelo artista conceitual Simon Kopp (Fonte: Quora)
Carreira
Artistas 2D
Como o próprio nome sugere, o Artista 2D é responsável por criar artes bidimensionais, incluindo personagens, cenários, objetos etc. Jogos com perspectiva 2D, como Ori and the Blind Forest, Limbo, Braid ou Super Meat Boy passam muito pelas mãos do Artista 2D, pois é ele quem desenha o que iremos ver no jogo.
Artistas 3D
Já o Artista 3D realiza tarefa semelhante, porém seu foco são os jogos 3D. Em vez de desenhar os personagens sob perspectiva side scrolling, o Artista 3D deve pensar em todos os detalhes do personagem que será inserido em um mundo de três dimensões. Para isso, a construção de cenários e personagens se dá através de técnicas de modelagem e programas avançados de computação gráfica para tornar a ideia crível.
Conhecimentos básicos
Ambos os profissionais (2D e 3D) precisam dominar conceitos de perspectiva, composição e incidência de luz e sombra. Outro ponto importante é que a criatividade e a inventividade são primordiais, além do domínio de ferramentas gráficas, como o Photoshop, ZBrush, Maya, 3ds Max, Modo, entre outras. Vale destacar ainda que os Artistas 2D e 3D encontram um mercado de trabalho vasto, podendo atuar com Concept Art, ilustração, interfaces, maquetes eletrônicas, etc. É bem comum que profissionais dessa área atuem também no mercado de animações e quadrinhos. O segredo é gostar de desenhar e praticar todos os dias.
Artistas que dominam a pixel art costumam ser bastante visados no mercado, pois jogos com esse estilo de arte costumam agradar o público geral. Outros estilos, como o vetorizado (por exemplo, o Cuphead), também costumam fazer bastante sucesso.
Salário
O profissional que se especializa nesses estilos de arte pode conquistar sucesso profissional instantaneamente. Não por acaso a faixa salarial varia de R$ 2.000 a R$ 3.000, de acordo com o site Love Mondays, dependendo do tamanho do estúdio em que se trabalha.
Importante: dominar as ferramentas gráficas e desenhos vetoriais é a chave do sucesso.
Designer de Personagem
O Designer de Personagens possui uma tarefa semelhante aos Artistas, portanto há quem pense que os dois executam a mesma função. Na verdade o designer de personagem pensa na identidade do personagem como um todo. É ele quem desenvolve a anatomia do personagem, a estilização, cores, criação de acessórios e vestuário etc. Não é possível mensurar a importância de um bom designer de personagem, pois é este trabalho que dá identidade visual e personalidade ao personagem.
Pense em personagens icônicos dos games, seja o Mario, Sonic ou a Lara Croft. O carisma desses personagens só foi alcançado em tão alto nível graças ao trabalho de um designer de personagem. É este profissional e suas técnicas que farão com que nos identifiquemos ou não com os personagens. Do contrário, não passam de meros bonecos animados.
Estudo dos possíveis ângulos da personagem. (Fonte: Line.17qq)
Carreira
O trabalho do designer de personagens é importante, pois qualquer narrativa precisa de um personagem. Deste modo, o profissional capacitado pode atuar com o mercado de games, quadrinhos, animações, livros, publicidade etc. Criar um conceito visual errôneo pode afastar as pessoas do projeto, vide o repúdio que as pessoas tiveram com a revelação do design do Sonic para o filme estrelado pelo ouriço em 2020.
O designer de personagens leva ao público os valores do protagonista do jogo. Um personagem bem desenvolvido fará com que o jogador crie vínculos afetivos com o personagem e permaneça imerso no jogo. Para entender a importância deste profissional, basta responder a seguinte pergunta: se o Dollynho estivesse no lugar do Link, a franquia Zelda seria tão boa quanto é?
A formação deste profissional envolve noções de, entre outros:
- silhuetas;
- simetria;
- assimetria;
- poses;
- gestos;
- anatomia;
- estudo de arquétipos;
- expressões faciais;
- design de moda.
Em outras palavras, tem que estudar e gostar de desenhar e, acima de tudo, saber que um personagem pode mudar a percepção do público.
Salário
O salário de um designer de personagens pode variar dependendo do tamanho da empresa em que atue. Profissionais iniciantes recebem entre R$ 1.200 a R$ 1.400. Já os mais experientes e com um portfólio de sucesso podem receber mais de R$ 4.000 por mês, conforme o site Love Mondays.
Importante: ter em mente que um personagem complexo não é garantia de sucesso, mas sim equilibrar um personagem com a proposta do game.
Engenheiro de Som
Sound designer trabalhando com uma atriz. (Fonte: BH Production)
Comumente chamado de sound designer, este profissional é responsável pelos efeitos sonoros do jogo. Quer mensurar a importância deste profissional? Basta perguntar a si mesmo se as franquias Mario, Top Gear, Donkey Kong Country ou ainda Silent Hill seriam a mesma coisa sem suas respectivas trilhas sonoras. Cabe ao designer de som criar as músicas e efeitos sonoros que embalam os jogos e fazer com que a imersão seja completa.
Este profissional por vezes nem cria uma trilha sonora do zero, mas sim faz a mixagem e capta sons da vida real e os transporta para o ambiente do jogo. Além disso, ele é capaz de trabalhar sons gravados previamente por bandas ou orquestras e tratá-los digitalmente para que se encaixem no estilo do jogo, removendo imperfeições ou adicionando efeitos.
Seu trabalho é o de fazer com que o jogador se divirta em determinados momentos do jogo, ou se arrepie de medo com um crescendo de tensão sonora, ou ainda derrube lágrimas em momentos tristes. O desafio é “tocar” o jogador com a trilha sonora.
O sound designer também pode atuar em parceria com o diretor do projeto na condução do time de dubladores, a fim de captar a entonação de voz necessária para transmitir a sensação desejada. Em suma: o designer de áudio é o cara da estética sonora e de seus complexos processos.
Carreira
O profissional aprende muita coisa sobre música e técnicas de sampling (captura de sons reais), síntese sonora (criação e desenvolvimento de timbres sintéticos) para causar aquela sensação de naturalidade no game. Uma vez que o designer de som é um músico que domina a edição de som, seus talentos ultrapassam a área de jogos eletrônicos, podendo atuar na indústria do cinema e da música.
Média salarial
O salário depende de quem o está contratando, de modo que um designer de som gabaritado pode receber mais de R$ 2.000 nos primeiros anos de atuação, de acordo com levantamento do site Love Mondays.
Importante: fazer experimentações em casa pode render ótimos resultados. Akira Yamaoka chegou a usar sons de metais colidindo na criação da trilha de Silent Hill.
Testador de Games – Quality Assurance
Você certamente já ouviu a frase “jogar videogame não dá futuro”, certo? Pois eis outro engano comum. Existe o testador profissional, conhecido como Quality Assurance, o cara cujo objetivo é jogar o game a fim de garantir que o produto esteja dentro das especificações técnicas e tenha a qualidade idealizada. Para isso, este profissional deve esmiuçar o jogo em todos os seus aspectos, fazendo experimentos e explorando as áreas do jogo.
O objetivo é um só: caçar bugs e glitches. Nada pode passar despercebido pelo Testador, pois através de seus relatórios as demais equipes poderão corrigir as falhas e entregar um produto decente.
Game testers realizando uma avaliação de qualidade em um jogo. (fonte: NYFA)
Carreira
A profissão é bastante disputada, afinal, quem não gostaria de ganhar dinheiro jogando games? E, em teoria, nenhuma especialização é necessária para isso. Basta ter senso crítico e gostar de jogar, mesmo que o game seja de terror e você não seja muito chegado neste tipo de jogo.
As impressões e opiniões do profissional são levadas muito a sério pela equipe de desenvolvedores, pois partem do pressuposto de que ele se enquadra no perfil médio de um jogador.
É preciso ter em mente que o papel de um Tester não é se divertir, mas sim repetir ações indefinidamente em diferentes áreas e menus do jogo. Por vezes é uma tarefa cansativa. Imagine ter que testar o mesmo game várias vezes com cada um dos personagens disponibilizados? Uma vez identificado um erro, a equipe irá corrigi-lo e devolver o game ao Tester, que tem que refazer todo o percurso até onde identificou aquela falha.
Em jogo online é comum que as empresas liberem um período de testes abertos para que poucos jogadores conheçam o produto e reportem os erros identificados. Ainda assim, isto não dispensa a necessidade de um Tester experiente, que será responsável por testar antes de todo mundo as funcionalidades do título.
Salário
Em casos de jogos single player, há empresas que contratam este profissional a fim de garantir que as coisas andem bem, porém a remuneração não costuma ser das maiores. Um adolescente que gasta quatro horas testando um game pode ganhar até R$ 600. Já aqueles com contrato de trabalho podem receber vencimentos de R$ 1.300 mensais, segundo o site Love Mondays. Nada mal, hein?
Importante: Realizar testes abertos ao público e apontar o maior número de erros possíveis pode despertar as atenções de algum estúdio.
Produtor / Gerente de Projetos de Jogos
Há pessoas que criam o game, mas em um projeto grande há quem sequer coloque a mão na massa, mas cuja importância é indispensável. Um desses profissionais é o produtor.
O produtor é o cara que supervisiona toda a produção do game, atuando mais nos bastidores. Seu papel é garantir que os jogos sejam entregues dentro do prazo, literalmente pressionando os demais profissionais e estabelecendo metas, prazos e orçamentos.
Kwangsam-Kim, produtor-executivo do jogo Shadow Arena (fonte: MMOCulture)
Carreira
Geralmente esses profissionais atuam nos mercados em que a distribuidora detém propriedade sobre estúdios. Eles fazem a ponte entre essas empresas. Imagine que quem faz a mediação de prazos e demandas entre a EA e a Maxis é o produtor-executivo. Ainda que pareça ser o cara a ser temido, na verdade o produtor deve ter boa relação com os profissionais do estúdio, ouvindo opiniões e demandas que tornem o trabalho mais prazeroso a todos os envolvidos.
Suas atribuições exigem noções de gerenciamento, administração e gestão de pessoas. Pode-se dizer que o produtor é o político da área, carregando o projeto para si e garantindo através de concessões e negociações que os investimentos e mão de obra caminhem de mãos dadas.
Média salarial
No Brasil, há produtores advindos de diferentes áreas, não necessariamente do game design. Não é à toa que esses profissionais podem atuar em empresas de diferentes ramos, como cinema, administração, design, editoria etc.
O salário gira em torno de R$ 2.600, podendo chegar a estratosféricos R$ 16.000, conforme o Love Mondays. Saber outros idiomas é essencial.
Importante: o Gerente de Projetos é muito bem-visto no ramo corporativo, pois seus resultados podem demonstrar capacidade de administrar diferentes projetos ao mesmo tempo.
Jogador profissional
Por fim, temos uma área relativamente nova, mas que é alvo de investimentos altíssimos no Brasil e no Mundo: o professional player (pro-player), aquele que veste a camisa de um time profissional ou amador e sai disputando torneios por aí. Há quem não valorize esta profissão, mas o fato é que pro-players têm carreiras comparáveis às de jogadores de futebol (com exceção do dinheiro que entra na conta).
Jogador profissional de League of Legends, Doublelift, jogando pela equipe norte americana TSM. (fonte: LCS eSports)
Carreira
Estes profissionais não possuem uma graduação específica, mas o tempo de dedicação a um determinado jogo é equiparável. Um pro-player dedicado deve comparecer a sessões de treinamento, disputar torneios internos, elaborar estratégias com sua equipe e passar dias (às vezes semanas) afastado da família disputando torneios globais. Parece (e é) uma carreira divertida e que rende bastante dinheiro.
Uma forma bem comum de entrar em um circuito profissional de eSports é iniciando um canal de streaming e vencendo partidas até conquistar seguidores suficientes para despertar as atenções de um grande time. Outra facilidade da área é que o profissional não precisa conhecer todos os jogos, mas especificamente aquele a que se dispõe a jogar, como LoL (League of Legends), Dota ou Free Fire.
Você deve estar se perguntando: como alguém ganha dinheiro? A resposta é simples: o alvo prioritário é ganhar campeonatos, mas há outras formas. Um jogador bom o bastante pode angariar patrocinadores para si, ou ainda através da monetização de seu próprio canal. Os eSports já produziram suas próprias lendas como Fallen, Mestre Daigo, Zigueira e o Faker, que são tão reconhecidos entre o público desses jogos tais como um Neymar ou Messi para quem curte futebol.
Média salarial
O salário de um pro-player varia da grandiosidade da equipe que defende. Sabe-se que há atletas que recebem cerca de R$ 6.000,00 por mês, contando salário + direitos de imagem. Isso sem contar premiações de campeonatos conquistados e possíveis patrocínios individuais. Se você investir tempo e dedicação, pode ter uma carreira de sucesso e posteriormente tornar-se treinador de uma grande equipe. As comparações com o meio futebolista são comuns, pois em geral a dinâmica de um cyber-sport segue a mesma linha de negócios do futebol.
Importante: O contrato celebrado entre o pro-player Faker com a SK Telecom T1 em 2017 era nada menos que de US$ 2,5 milhões por ano.