O mercado de games cresceu muito nos últimos anos. Mesmo assim, há aqueles que ainda se perguntam se vale a pena estudar e trabalhar nessa área, em muitos casos por não conhecerem a história dos jogos digitais e sua evolução no nosso país. Por esses e outros motivos, nesse artigo vamos de conhecer um pouco mais sobre
a indústria de games no Brasil.

A primeira coisa a saber é que a indústria de jogos digitais no Brasil ainda está engatinhando, quando comparada a países como EUA, Coreia do Sul e Japão. Isso ocorre também pelo fato de os cursos especializados terem demorado a surgir por aqui, pela falta de investimentos no setor e pela carência de tecnologia para desenvolvimento.

JOGOS DIGITAIS x ANALÓGICOS

Antes de mais nada é importante lembrar que jogos digitais são diferentes de jogos analógicos. Sendo mais específico, o profissional graduado em game design é capaz de desenvolver as duas modalidades de jogos, mas elas não são necessariamente iguais.

Os jogos digitais são aqueles que necessitam de um suporte eletrônico para funcionar, seja um console, um smartphone, um tablet etc. Já os jogos analógicos dependem unicamente da interação entre os jogadores. São os famosos jogos de carta e tabuleiro.

Jogos analógicos são mais antigos e enraizados na cultura nacional. O Brasil já produziu centenas de jogos nesse formato.

Console de videogame Phantom System, um dos primeiros games no brasil

Foto do Phantom System, famigerado famiclone brasileiro. (Fonte: Blog Fliperama de Boteco)

A EVOLUÇÃO DOS JOGOS NO BRASIL

Para falar da indústria e do mercado de games no Brasil é necessário traçar um parâmetro de como as coisas eram e como evoluíram.

Os jogos eletrônicos começaram a crescer por aqui entre 2003 e 2005, com a popularização de editorias sobre games como Revista Oficial do Playstation, EGM Brasil e o programa G4 Brasil. Esses veículos de imprensa despertaram o interesse do público e de investidores, que viram que os jogos eletrônicos podiam ser um negócio produzido no Brasil também. Some-se a isso o fato que o Playstation 2 vendia como água, as lan houses recebiam centenas de jogadores todos os dias e os celulares já eram capazes de receber jogos mais elaborados.

Início difícil

Antes disso, quem queria saber sobre videogames não era levado a sério: apesar de algumas revistas existirem, elas tinham um formato mais infantil e as grandes fabricantes não eram atuantes em nosso país. Para se ter ideia, os “Famiclones” eram mais conhecidos aqui do que o NES original. Enquanto países como EUA e Japão se maravilhavam com os jogos da geração 16-32 bits, no Brasil era raro quem tinha condições de exportar esses consoles.

Para piorar a situação, a pirataria reinava incontestável. Os preços proibitivos de jogos e a falta de empresas dedicadas a explorar esse mercado relegou o Brasil a um atraso irreparável no setor. Talvez uma das raras exceções foi a Tec Toy, que firmou uma parceria histórica com a SEGA, trazendo oficialmente para cá os consoles e jogos da empresa japonesa.

Nintendo x Playstation

A situação do mercado começou a mudar apenas no final da geração 32-64 bits, quando a Gradiente e a Nintendo uniam forças para fazer do Nintendo 64 um sucesso no Brasil. A popularidade da franquia Pokémon na época foi um dos motivos para muitos optarem pelo console da Nintendo.

Além disso, o Playstation, seu principal rival, só podia ser encontrado no mercado cinza e sem qualquer garantia. O final da década de 90 e início dos anos 2000 foi um período importante para a indústria nacional, pois houve a percepção do empresariado de que os videogames eram um setor promissor. Ajudou ainda o fato de o Playstation da Sony ter vendido impressionantes 100 milhões de unidades no mundo todo.

Evento EGS de games no Brasil

Stand da Sony na EGS – Eletronic Game Show. (Fonte: Atomix)

Virada de jogo

O Playstation 2 foi o grande responsável por transformar o mercado de games no Brasil, apesar de não ter tido um lançamento oficial. Na época, os aparelhos de DVD eram pouco acessíveis aos mais pobres. Já o Playstation possibilitava que o consumidor assistisse a filmes e jogasse no mesmo aparelho.

Apesar de não ser tão poderoso quanto seus concorrentes, o console da Sony se tornou um marco na indústria de entretenimento geral. É difícil conhecer uma pessoa que jamais tenha tido contato com um videogame após o lançamento do PS2.

Eventos para gamers

Os negócios se profissionalizaram e ganharam mais destaque a partir do lançamento do Xbox 360 e do Playstation 3. A Microsoft utilizou sua expertise para lançar sua plataforma de maneira oficial no país, o que “forçou” que a Sony fizesse o mesmo.

Até a Nintendo, que ficou ausente por anos, participava dos eventos de games promovidos no Brasil. Foi nesse período, aliás, que a primeira grande feira de jogos eletrônicos veio ao Brasil, a Electronic Game Show (EGS), em 2004 e 2005.

Exemplo de personagem da raça Selvagem do jogo perfect World

Exemplo de personagem da raça Selvagem do jogo Perfect World (Fonte: Game Hall)

Pequenos grandes estúdios

Consolidação do mercado

Também foi nesta época que alguns jogos nacionais começavam a sair do papel, tais como Erinia e Taikodom, mostrando que o Brasil tinha potencial para produzir jogos de larga escala. Paralelamente, os títulos importados pela Level Up! Games dominavam as listas de aplicativos mais baixados nas redes brasileiras, como Combat Arms, Perfect World e o mítico Ragnarok Online.

Esses jogos citados pavimentaram o caminho para que pessoas com boas ideias decidissem estudar game design e as instituições de ensino investissem no curso. O que se vê hoje é um reflexo do que foi plantado há cerca de 15 anos: um mercado em crescimento, pulsante e com várias oportunidades.

De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Newzoo, em 2018 já havia cerca de 75 milhões de jogadores de games no Brasil. São consumidores dispostos a investir em jogos de alta qualidade, afinal são exigentes e dedicam tempo e dinheiro à diversão. Não é por acaso que centenas de produtores recém-saídos de cursos de Game Design conseguem uma colocação na área, seja no Brasil ou atuando em outros países, como Canadá e Estados Unidos.

Ainda de acordo com a Newzoo, o Brasil movimentou cerca de US$ 1,5 bilhões em jogos eletrônicos. Esse cenário é favorável para quem busca uma profissão promissora.

Ascensão do smartphone

O nicho que mais movimenta dinheiro no mercado de games no Brasil é, sem dúvida, o mercado mobile. De acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o Brasil contava até abril de 2019 com cerca de 230 milhões de aparelhos celulares ativos. É improvável conhecer uma pessoa que não tenha um único jogo instalado no smartphone para passar o tempo no transporte público ou na fila do banco.

Sendo assim, o mercado de games no Brasil é um dos mais promissores, tanto que até mesmo escolas privadas da rede fundamental de ensino estão investindo recursos em aplicações para educar seus alunos, seja em jogos mobile ou com a realidade virtual.

A expectativa é que os jogos se tornem ferramentas educacionais até mesmo em cursos superiores. Ao apostar na indústria de jogos, o estudante abre um leque de possibilidades bem amplo.

Se por um lado os americanos possuem empresas gigantescas, como a Electronic Arts e a Blizzard, os japoneses possuem outras empresas respeitadas, como a SEGA e a Nintendo. Mas isso não quer dizer que o desenvolvedor de games terá de ir trabalhar em outro país, se não desejar.

Arte do jogo TowerFall

Arte do jogo TowerFall (Fonte: Blog Studio Miniboss)

Brasil no mapa dos games

Em pouco mais de uma década o Brasil viu uma infinidade de estúdio de games nascer e florescer. Os investidores e empreendedores se deram conta que nosso país tem todos os requisitos para se tornar uma nova Meca de produção de jogos.

Naturalmente, os orçamentos de jogos feitos aqui são mais enxutos, porém de alta qualidade. Podemos citar alguns pequenos notáveis que surgiram aqui e ganharam aclamação mundial. Certamente você já ouviu falar de algum desses:

  • Behold Studios (Knights of Pen & Paper)

  • Miniboss (Towerfall)

  • QUByte Interactive (HTR+)

  • Webcore (Menino Maluquinho)

  • Mother Gaia Studio ( Headball Championship)

  • O2 Games (GameGol)

  • Aquiris Game Studio (Ballistic)

Quem curte jogos indies geralmente fica atento a eventos como o BIG Festival e a Brasil Game Show, eventos de games anuais que atraem multidões para São Paulo. O primeiro é dedicado aos jogos independentes e o segundo possui espaço dedicado aos jogos nacionais. Sempre é possível ver jogos promissores surgindo no Brasil.

Outros eventos que costumam atrair pequenos produtores são as game jams, eventos dedicados a produzir games em poucas horas. Essas jams servem para incubar projetos, revelar talentos e até mesmo estabelecer contatos importantes na área. Não é raro conhecer estúdios nacionais que surgiram justamente em game jams.

Game jam de jogos digitais

Competição mundial de criação de jogos, Game Jam Plus. (Fonte: Blog A Casa do Cogumelo)

O MERCADO DE GAMES HOJE

Áreas de atuação

O profissional de Jogos Digitais pode atuar em diversas áreas de games no Brasil. Nós fizemos um texto sobre isso, mas segue um resumão das principais profissões na área de games:

  • Game Designer, responsável pelo projeto geral do jogo;
  • Programador, que cuida da parte mais técnica, digitando as linhas de comando do jogo;
  • Artista, responsável pela estética gráfica dos cenários e personagens;
  • Produtor, quem gerencia o andamento do projeto;
  • Designer de Som, que compõe a trilha sonora do jogo, tornando-a envolvente e expressando as intenções dos produtores.

Expectativas para o mercado

A expectativa é que o mercado brasileiro de jogos cresça ainda mais, visto que algumas associações como a Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais) vão atrás de investidores para o mercado nacional.

Além disso, as famosas Game Jams costumam reunir produtores com objetivos em comum, contribuindo para a criação de belos jogos e para a formação de novas equipes. Vale também destacar que eventos de games multiplicaram-se pelo país, dando destaque para os desenvolvedores independentes. A Brasil Game Show e o BIG Festival são os grandes palcos que revelam os principais jogos produzidos em terras tupiniquins.

Interface da plataforma Steam

Interface da plataforma Steam (Fonte: Steam BR)

Perspectiva de sucesso

Mesmo que o profissional não esteja inserido em um grande estúdio de alcance mundial, as chances de conquistar retorno financeiro e sucesso profissional são altas.

Afinal, o lançamento de um jogo é muito mais fácil com o advento de lojas online como a Steam, a Google Play, a App Store e o Marketplace. Se antes era impensável lançar um jogo sem o apoio de uma grande editora, hoje em dia um desenvolvedor solitário consegue disponibilizar seu produto em quaisquer dessas lojas e conquistar reconhecimento do público e da mídia especializada, se o game for inovador. Basta lembrar de sucessos recentes como Minecraft, Chroma Squad ou Horizon Chase. Todos desenvolvidos por estúdios pequenos, mas que conquistaram sucesso mundial.

Como se não bastasse, o profissional da indústria de jogos pode desenvolver para diferentes segmentos: jogos de entretenimento, jogos como peças publicitárias para grandes empresas, aplicações para treinamento em empresas, jogos educacionais, jogos informativos, jogos analógicos, aplicações para redes sociais etc.

 

Com tudo isso, a qualificação profissional é essencial nessa área e algumas instituições possuem o curso de capacitação para quem quer trabalhar com games no Brasil. Essa é uma área que não para de crescer e na qual vale muito a pena investir.

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